domingo, 30 de agosto de 2009

Vale à pena crescer?

Não dá para escapar dos inevitáveis problemas organizacionais decorrentes do crescimento. Então vale a pena crescer?

por Aurelio Oliveira


Vale à pena crescer. A trajetória de uma empresa está sempre marcada por evoluções e revoluções. Estaria aí o seu grande aprendizado, extremamente necessário para o desenvolvimento da organização. Só é possível ter este aprendizado quando se busca o crescimento, quando a empresa sai do lugar comum, quando testa constantemente sua capacidade de lidar com momentos de crise e de bonança. Enfrentar o desafio de crescer é para poucas empresas, e sem dúvida só se testa verdadeiramente o modelo de gestão quando se busca ampliar as fronteiras da empresa.

O texto de Larry E. Greiner é bastante apropriado ao descrever um modelo de como as organizações se desenvolvem. E é interessante que elas só têm esta oportunidade de se reinventar constantemente se buscarem o crescimento, seja ele defensivo ou mesmo como estratégia de crescimento. A passagem de uma empresa com espírito fresco, inovador, para um formato mais controlador, mais corporativo, evoluindo para um modelo mais colaborador só pode ser testado, se o crescimento faz parte em algum momento da historia da empresa. Parece um pouco óbvio a declaração do mesmo texto de que se aprende muito com o passado, mas vejo que a riqueza da análise está em tentar verificar a trajetória da organização e seu modelo de gestão, e adaptá-lo sempre que necessário aos desafios que surgem ou que a própria empresa deve proativamente buscar. Não é tão simples assim, pois em geral se pode justificar se é necessário ou não mudar o modelo da organização dependendo dos interesses, por isso é tão difícil antever a necessidade de mudança, uma vez que a crise pode ou não vir. Muitas vezes as crises são criadas.
Lembro-me uma conversa que tive com o Prof. Ferro do Lean Institute, na qual ele dizia que a organização Toyota, por exemplo, não se satisfazia com os logros e que ia sempre buscar mais. E que algumas vezes crises eram criadas de forma a fazer com que a organização se superasse cada vez mais. Vejo que a busca constante pelo crescimento traz uma pré-disposição à evolução e a revolução.
É muito comum as empresas crescerem sem a estrutura adequada no inicio, mas logo em seguida percebem que precisam se organizar. Aí vem o controle excessivo, em seguida o distanciamento das trincheiras, do campo de batalha, do gemba (onde as coisas acontecem, conforme a filosofia lean). Não conheço nenhuma empresa que antes de crescer, se preparou e dimensionou adequadamente todos os seus sistemas. Em geral, os problemas aparecem logo em seguida. Mas tendo vivenciado esta situação, não dá pra trocar por nada uma empresa que tem uma estratégia diferenciada na sua indústria (ou que cria sua indústria); todos crescem envolvidos nesta fase, um ambiente criativo, trabalhando com as melhores pessoas, com as melhores ferramentas.
O texto que conta a historia da Sears mostra muito bem esta situação de euforia com o crescimento, com a multiplicação da cultura. Também destaco uma questão interessante que é a existência de lideres carismáticos no seu inicio, e mesmo nos períodos seguintes. Parece-me claro que na fase inicial de crescimento, de criatividade conforme descrito no texto Greiner, é preciso ter lideres carismáticos, criativos, a própria imagem da organização, como no caso de Sears e Rosenwald. Mas será que estes lideres são os mais apropriados para as fases seguintes de desenvolvimento da organização? Na maioria das vezes é preciso em algum momento da ruptura deste modelo, onde a criatividade, a imagem da empresa se confunde com seu criador, muda para uma engrenagem viva, um ciclo virtuoso capaz de crescer em todos os sentidos, multiplicando a cultura. Interessante destacar que o texto não foca esta questão do estilo do líder, da liderança. Jim Collins, em seu livro Feitas para Vencer, menciona que empresas que estão talvez no patamar de maior maturidade e que estão constantemente na liderança em suas indústrias, existe uma liderança Nivel 5. Ou seja, não tem nada de carismático, é simples, servidora, e que a organização avança sempre independente do comando do líder. A organização, ao invés de estar olhando para o seu líder, está focada no seu mercado no seu cliente.
Ainda sobre o texto da Sears, vale destacar o fato de ter sido pioneira, uma historia extraordinária de empreendedorismo, crescimento, historia vinculada com uma parte da historia de uma nação. Mas não foi capaz de detectar o crescimento de uma empresa que hoje está entre as maiores do mundo, que é a Wal-Mart. E este pode ser um grave problema do crescimento que é a arrogância.

Parece contraditório, mas a empresa para crescer como organização, em toda sua plenitude, precisa enfrentar todos os desafios de sobreviver e de crescer, como se procurasse problema, e se reinventasse para sair de uma forma melhor do que estava antes. Talvez seja difícil esta análise no momento em que vivem tais revoluções, mas é preciso ter frieza, visão holística, e coragem para se tomar a decisão certa. Se reinventar e tirar o melhor de cada crise, de cada revolução.
Isto não se faz isto de uma hora para outra; é preciso a transição adequada e é aí que entra a historia da empresa. As revoluções e os longos ciclos de evolução não mudam simplesmente mudando seus lideres, mudando as pessoas. Os problemas que surgem com o crescimento, com as crises, mas para a organização se desenvolver e se preparar precisa enfrentar estes problemas. É o alimento necessário para que se desenvolvam.
Santiago do Chile, 27 de agosto de 2009

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